Aqui está ela novamente mais uma recém-chegada na estação da vida, na plataforma que a levará para sua próxima jornada, - a jornada de número vinte oito.
Nos minutos que antecedem à chegada de seu trem, ela olha com uma expressão perdida as estações pelas quais passou. O sentimento é uma nostalgia doce com um toque amargo, afinal remexer em certas lembranças nem sempre trazem coisas boas.
Ela se estica e observa lá longe as primeiras plataformas pelas quais passou. Como essas passaram rápido, - ela reflete. Gostaria de ter aproveitado melhor as estações seis, sete, oito (...), mas quando se está nelas preocupações como, passado e futuro simplesmente não existem. Existe apenas o presente.
Observando mais atentamente ela vê os passageiros que seguem para o embarque das jornadas dezesseis, dezessete, dezoito (...). Ah! Quantos sonhos e doces ilusões essas estações trazem. Aquela falsa sensação que o tempo é infinito, que o passado é apenas o passado e o futuro um mero detalhe.
Ela dá um sorriso tímido ao se lembrar de seus devaneios, e agradece silenciosamente o fato de que a grande maioria deles não deu muito certo. Afinal será que ela estaria onde está, e teria conquistado tudo que conquistou se insistisse naqueles sonhos tolos? Não, com certeza não.
Agora seu olhar está focado nas plataformas vinte, vinte uma e vinte três. Como as melhores jornadas da sua vida podem ser os piores ao mesmo tempo? Definitivamente a vinte dois não deveria ter existido. Ela foi dolorosa demais, ninguém deveria dar um adeus definitivo a quem ama. Mas foi nessas estações que ela descobriu o que queria ser quando crescer e aprendeu que por detrás da tempestade, sempre tem um céu azul.
Enquanto ela se recordava de todos seus planos feitos, desfeitos e reconstruídos se dá conta de como mudou e de quanto ainda precisa crescer. É nesse momento que seu trem chega à estação da vida, ao mesmo tempo em que o trem da trinta. Um lembrete sutil que agora os dias vão correr mais rápido e que o amanhã é hoje, por isso ela não pode mais deixar de lado seus sonhos mesmo aqueles que parecem impossíveis agora.
A porta do trem se abre e lá dentro, ela encontra com pessoas que ama, com aquelas que precisa ter paciência e claro, sempre tem um ou outro desconhecido que terá um papel importante em sua nova jornada. Pois ela sabe que em muitos momentos vai querer desistir, vai se sentir fraca e incapaz para continuar, e é por isso que Deus sempre coloca essas pessoas no seu trem. Para lembrá-la constantemente que ela é capaz sim e que vencer, sofrer, chorar e sorrir faz parte da vida. Nós só crescemos no atrito, lembra?
Ela pode não ser mais a mesma garotinha que acreditava em Papai Noel, tão pouco é a rebelde que ouvia heavy metal e queria ter sua banda. Sim ela ainda terá seus momentos de devaneios, medo e insegurança. Ah! Insegurança (...) ela sempre será um obstáculo a ser vencido. Porém agora ao embarcar na estação da vida número vinte e oito, vendo o trem da trinta passando rapidamente virando a curva, ela percebe que não importa muito os tropeços que teve nas jornadas passadas. Claro alguns deles ainda doem, mas se não fosse por eles, ela não seria tão forte como é hoje. Então até que valeu apena sair com algumas cicatrizes.
Ela olha a sua volta e percebe o quanto está rodeada de amor, e que se a felicidade não é eterna a tristeza também não é. A saudade de quem ficou pelo caminho sempre será uma companhia silenciosa, mas as pessoas podem até partir de nossas vidas só que nunca de nossos corações. Neles elas são eternas!
Ela respira fundo e faz um pedido para os céus a brisa toque de leve o seu rosto e aquele sorriso tímido está novamente ali (...)
(...) A vida é um grande estação, cheia de estações secundárias por onde passamos. Cada uma nos marca de maneira diferente. Cada uma nos muda de alguma forma. Cada uma nos ensina uma nova lição. Vinte oito jornadas é só o começo para quem tem dentro de si, sonhos, objetivos e ideais do tamanho do cosmo. Só é preciso dar o primeiro passo.
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imagem: Tumblr
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texto escrito por: Ariane Gisele Reis. © Todos os Direitos Reservados.